20 de novembro de 2015

Tenho um chocolate dividido ao meio!, por Catarina Almeida

para a minha professora Odete Pinto
 
- Trabalho de casa para amanhã: trazer uma tablete de chocolate!
- Chocolate?! Pode ser branco? – perguntei eu, incrédula.
- Pode. – respondeu a professora Odete, sem floreados, como era ela própria.
 
Eu devia ter oito ou nove anos quando, na minha escola, foi o dia de aprender as fracções com tabletes de chocolate; e por aí devia andar também quando aprendi, na minha escola, a dançar a valsa, o rancho e o vira; na minha escola, aprendia-se a ler e a escrever e também a ir ao centro dos velhinhos ler-lhes histórias e a oferecer-lhes os textos que escrevíamos.
 
- Catarina, quantos chocolates trouxeste?
- Um!
- E quantos quadradinhos tem esse chocolate?
- Vinte e… quatro!
- Divide esse chocolate ao meio. Tens um chocolate ou dois chocolates?
- Tenho um chocolate dividido ao meio!
 
Nesse dia, aprendi que os números servem para descrever a realidade, para a perceber melhor e para poder explorar todas as suas possibilidades e todas as minhas capacidades de a entender. Aprendi, ainda, que isso me dava um gozo incrível.

Na minha escola, havia a professora Odete, que nos ensinava a viver assim. Tinha um olhar unitário sobre a vida: não me lembro de estudar “Língua Portuguesa” ou “Matemática” ou… “Meio Físico e Social” mas ainda consigo trazer à memória o entusiasmo que vibrava em mim quando estava prestes a saber o que ia descobrir naquele dia.

Na minha escola, fui introduzida ao conhecimento elementar, primário e essencial do mundo através da sua beleza: o rigor e a precisão da gramática serviam para sustentar a objectividade e transparência do vocabulário e dos textos; a linguagem matemática era uma possibilidade de contar e relacionar o mundo de forma progressivamente mais abstracta, a natureza, a história e a cultura, o cuidado com os mais necessitados, a amizade, tudo me fazia crescer feliz!
Lembro-me que no último dia de aulas da quarta classe estava triste por me ir embora, mas não queria ficar. Queria ir conquistar o mundo e – disse para comigo – ser como a professora Odete!
Catarina Almeida

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