para a minha professora Odete Pinto
- Trabalho de casa para amanhã: trazer uma tablete de chocolate!
- Chocolate?! Pode ser branco? – perguntei eu, incrédula.
- Pode. – respondeu a professora Odete, sem floreados, como era ela
própria.
Eu devia ter oito ou nove anos
quando, na minha escola, foi o dia de aprender as fracções com tabletes de
chocolate; e por aí devia andar também quando aprendi, na minha escola, a
dançar a valsa, o rancho e o vira; na minha escola, aprendia-se a ler e a escrever
e também a ir ao centro dos velhinhos ler-lhes histórias e a oferecer-lhes os
textos que escrevíamos.
- Catarina, quantos chocolates trouxeste?
- Um!
- E quantos quadradinhos tem esse chocolate?
- Vinte e… quatro!
- Divide esse chocolate ao meio. Tens um chocolate ou dois chocolates?
- Tenho um chocolate dividido ao meio!
Nesse dia, aprendi que os números
servem para descrever a realidade, para a perceber melhor e para poder explorar
todas as suas possibilidades e todas as minhas capacidades de a entender.
Aprendi, ainda, que isso me dava um gozo incrível.
Na minha escola, havia a professora Odete, que nos ensinava a viver assim. Tinha um olhar unitário sobre a vida: não me lembro de estudar “Língua Portuguesa” ou “Matemática” ou… “Meio Físico e Social” mas ainda consigo trazer à memória o entusiasmo que vibrava em mim quando estava prestes a saber o que ia descobrir naquele dia.
Na minha escola, fui introduzida ao conhecimento elementar, primário e essencial do mundo através da sua beleza: o rigor e a precisão da gramática serviam para sustentar a objectividade e transparência do vocabulário e dos textos; a linguagem matemática era uma possibilidade de contar e relacionar o mundo de forma progressivamente mais abstracta, a natureza, a história e a cultura, o cuidado com os mais necessitados, a amizade, tudo me fazia crescer feliz!
Lembro-me que no último dia de
aulas da quarta classe estava triste por me ir embora, mas não queria ficar. Queria
ir conquistar o mundo e – disse para comigo – ser como a professora Odete!
Catarina Almeida
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