13 de novembro de 2015

Professor, isto sai no teste?, por José Feitor

Época de avaliações, reuniões intercalares, notas, comentários, entregas de relatórios, reuniões com pais… Todos nós sabemos como são estes períodos.
 
Em Ciências (desculpem-me a especificidade) é muito importante saber redigir uma boa resposta a uma pergunta de desenvolvimento.
 
Esta semana apliquei uma estratégia que aprendi nos idos anos do meu estágio pedagógico. O Professor Vítor, grande mestre na Escola Secundária D. Luísa de Gusmão, ensinou-me uma maneira de fazer as aulas de entrega e correção de testes que, ao longo de todos estes anos, tentei nunca perder.
 
O miniteste desta semana, ao contrário de todos os outros, só tinha perguntas de grande desenvolvimento. Escreveram como se o mundo geológico estivesse, naquele momento, totalmente descrito nas 4 páginas da folha de teste que tinham à frente. Quando terminou, recolhi e tirei uma cópia de todas as respostas. Corrigi os originais.
 
Na aula de correção começo por entregar as fotocópias das respostas. O espanto instala-se.
 
- O que é isto? São cópias? Onde é que está a nota? Mas isto não está corrigido!!!
 
Todas estas questões ocorrem num silêncio absoluto da minha parte.
 
Passo à entrega dos critérios de correção e analisamos, de forma detalhada, cada um. Leio os tópicos e a cotação que cada um vale. Depois deixo-os trabalhar.
 
As reações são indescritíveis.
 
É impressionante ver que não olham para a nota (porque de facto não existe) mas preocupam-se em verificar onde está, na resposta deles, o tópico que a pergunta exige para que se compreenda o que nela está contido.
 
Depois chega o somatório dos pontos e a nota final.
 
Segue-se o momento em que lhes peço que com os tópicos, refaçam cada uma das suas respostas. Chega o momento do confronto com a nota da correção do professor.
 
Ao longo destes anos fiz experiência de que os resultados deles são, na grande maioria das vezes, muito próximos do classificação real que possuem.
 
Tenho, todos os anos, alguma resistência em perder uma aula com esta maneira da fazer a correção mas olho para trás e lembro-me das caras deles e do espanto que se instala a cada fase que se percorre.
 
O que é, então, de facto, importante? Educá-los, mostrar-lhes como se faz para que consigam, no futuro, fazer melhor do que eu ou treiná-los para que arranjem uma técnica para responder à matéria que sai no teste?
 
- Professor, isto sai no teste?
 
- Não respondo a essa pergunta. Estou aqui para te educar no sentido de usares os teus conhecimentos geológicos para compreenderes o mundo. O que sai no teste é apenas uma pergunta sobre um ponto específico de tudo o que aprendeste. Nas aulas, o que aprendes é muito maior e não cabe no teste.
 
José Feitor

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